quinta-feira, 16 de junho de 2011

Complexo de Macunaíma

"Aaaaaaaaaaaai, que preguiça!"
Muito triste ter que voltar à vida útil depois de ter ficado quatro dias inteiros de bobeira. Segunda foi feriado de Santo Antônio aqui em Juiz de Fora, e tive folga ontem para equiparar com o feriado de Corpus Chirsti, em que vou trabalhar. O que interessa disso tudo é que: somando minha conveniente folga prolongada ; minha preguiça secular; um frio DO DEMONHO ;um HD cheio de filmes e séries; um cobertor de orelha; uma cama quentinha... voltamos da noitadinha de sábado e só fui sair de casa de novo hoje, pra trabalhar. E quando Deus disse: “faça-se o delivery!”, ele assinou embaixo da minha hibernação. 

Com isso, vi alguns filmes (não que me orgulhe de todos, e já já vocês entendem), entre uma temporada e outra de Friends, uma refeição e outra, uma agasalhada na orelha e outra, uma cochilada e outra. E minha inoperância foi tão grande que resolvi só postar sobre os filmes quando os dias úteis voltarem, para não atrapalhar meu posicionamento horizontal na cama. Ei-los aqui, então, post a post, enquanto esta que vos escreve se amontoa debaixo dos edredons e traja uma simpática touca. (Ainda falta postar sobre um filme que vi no feriado, mas fica para depois, porque levei uma rasteira da influenza e preciso ficar na horizontal)

Pânico

Título original: Scream
Lançamento: 1996 (EUA)
Direção: Wes Craven
Atores: Neve Campbell, David Arquette, Courteney Cox, Matthew Lilard.
Duração: 110 min
Gênero: Terror

Taí um emblema da minha adolescência: a gente se reunia na casa de alguém e via todas as sequências de "Pânico", "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado", "Lenda Urbana" e outros supostos thrillers enlatados; preferencialmente em "festas do pijama", em que a gente pudesse assustar umas às outras a madrugada toda. Sem mencionar as vezes que saí da minha pacata Três Rios, com as meninas, para desfrutar destas "obras" em Juiz de Fora, no cinema - coisa que não existia na nossa terrinha. E como a gente se achava adulta vindo passear em "Gifora"! Tempo bom.

Por toda essa nostalgia, admito que tava doida pra assistir Pânico 4 -sobre o qual comentarei no final do post-, o que fiz no bendito feriado prolongado . Só que aí me deu vontade de ver de onde tinha saído aquilo, e resolvi rever o original. E depois de fazer isso, pensei um pouco e acho que o que fez Pânico dar certo foi tratar a temática dos "serial killers" com uma linguagem mais jovem sem, por isso, ser retardado. Temos que dar desconto para algumas cenas que realmente são idiotas, sobretudo as que se passam no colégio onde estuda a protagonista e alvo do assassino mascarado, Sidney (Neve Campbell). Mas acho que são imbecis muito menos pelo filme em si , do que pelo fato de que os teens americanos são mesmo retardados. O fato de usar atores jovens  (sim, a Courteney Cox , vulga Monica Geller, era nova na época, gente! E sem botox!) também aproxima o filme de um público mais adolescente, mostrando um tipo de thriller que esta galera não estava acostumada a ver.

Digo isso porque acho que dá pra dizer que Pânico foi um dos primeiros filmes - para minha geração-que não abordou o terror sob o prisma da  fantasia, dos mortos-vivos e afins, como os "Sextas-feiras 13", "Horas do pesadelo" e "Brinquedos Assassinos" e"Exorcistas" da vida. (Tipo de filme que aliás, eu detesto, simplesmente pelo fato de que eu sou cagona e me borro de medo de criaturas do além- ou possuídas, tanto faz- atrás de gente viva.) Talvez isso explique o sucesso do filme na época e o fato de ele ter tido tantas sequências -se é que vai parar no 4. Esse novo terror que não era Freddie Krueger, mas também não chegava a ser Hannibal Lecter. (Ou talvez o hit se deva só ao fato de que era muito fácil passar a mão no telefone pra meter medo em alguém, como acontece no approach do assassino do filme, que sempre bate um fio para a próxima vítima antes de descer o facão)

De mais a mais, foi divertido rever Pânico, embora agora, com 25 anos na fuça, eu ache o roteiro clichê e previsível. Mas há que se convir que isto é dito por alguém que viu todas as sequências e se lembrava de todas as mortes do primogênito de Craven. Em linhas gerais, o filme é bem feito e bem amarrado, apesar das fugas estilo McGyver da  imortal Sidney e da bitchisse forçada da repórter-abutre Gale Weathers (Monica Geller), sempre soltando um "fuck you" que parece não encaixar na fala. Os efeitos também podiam ser melhores, mas reza a lenda de que a "sanguificina" com cor de esmalte foi proposital, pra dar um quê de bizarro mesmo. Mission accomplished. "1001 filmes" diz que entre as razões pro sucesso do Pânico está a capacidade de Craven de assustar o público mesmo nas passagens mais engraçadas. Mas eu prefiro voltar aos meus 13 anos e pensar em Pânico como um filme só assustador, mesmo que já não seja, só pra honrar a memória daquele tempo.

Melhor fala: "What's your favorite scary movie?" ( Na verdade, é a mais emblemática e não a melhor.A pergunta que o assassino fantasiado sempre faz ao telefone, para suas vítimas)

Menção (des) honrosa para Pânico 4

Em poucas palavras, Pânico 4 é uma grandessíssima merda- o que já era de se esperar. A Sidney, coitada, mais uma vez volta a ser perseguida pelo matador travestido (ui!), quando finalmente acha que pode por o burro na sombra. E dá meio na cara que a Neve Campbell não "guenta" mais ser Sidney na vida. Pra quem já viu os três primeiros, não há nada de surpreendente, e o filme acaba sendo é uma comédia de Sessão da Tarde mesmo. Ninguém chama atenção no elenco novo e o final é bem previsível. (Embora graças à língua frouxa meu amigo Peixoto eu já soubesse quem era o assassino antes de ver o filme). Sem falar que é muito deprê ver a Courteney Cox com a cara toda botocada e o David Arquette gordaço, e que os dois interpretam marido e mulher no filme, pouquíssimo depois de terem se divorciado. É, Courteney, por "Pânico 4" eu não encarava o climão de trabalhar com ex-marido não, sinceramente.

Parque dos dinossauros


Título original: Jurassic Park
Lançamento: 1993 (EUA)
Direção: Steven Spielberg
Atores: Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum , Richard Attenborough.
Duração: 101 min
Gênero: Aventura

Estava eu procurando um streaming de Friends no Justin.tv (que, aliás, recomendo a todos. Se a conexão for boa, a transmissão fica igual a de TV, e se a qualidade do vídeo também for legal, é TV a cabo no computador) para matar meu tempo no domingo, entre o sono e uma ressaca de cervejinha e japonês + estendida no Muzik. Não achei nenhum canal de Friends ou qualquer seriadinho despretensioso dos que eu amo asisstir, e quando já estava quase desistindo, eis que acho uma pérola: um canal em que estava passando Jurassic Park, e tava no começo! Como já tinha zuado com meu namorado, Renatinho, o fato do filme estar no "1001 filmes", achei que ele estar passando bem no meu ócio ressáquico era um sinal para eu vê-lo, já que ele é, afinal, um dos "milium" da lista.

Tinha assistido o "Juraci" (sou íntima) no cinema, bem novinha, e lembro que na época, foi muito impressionante.E não é que acabei de ver o filme mais de dez anos depois e ainda o achei muito do bem feito? ÓBVIO que há considerações a se fazer. O roteiro é tosco: criar dinossauros através do sangue de um pernilongo fossilizado, completando o que falta da cadeia de DNA com genes de sapo. Bem ficção científica de sessão da tarde, chamando a gente de trouxa na nossa cara. As atuações também não se destacam, até porque atuar, neste filme, se resume a tomar um puta susto e sair correndo, nada que exija grande talento dramático, convenhamos. Mas a fórmula  funciona e convence, porque "Parque dos Dinossauros" é Spielberg "crássico": grandioso, "efeituoso", minucioso, que faz da técnica a própria narrativa- como vemos em ET e Inteligência Artificial, por exemplo. (Há outros exeplos, mas só posso sustentar meu argumento com os que eu vi! rs)

Eu diria, ainda, que os verdadeiros atores do filme são os dinossauros, fruto de arte gráfica e outros efeitos especiais, muito bem-feitos, sobretudo se pensarmos no avanço da tecnologia cinematográfica daquela época para cá. Em momento algum, achamos os efeitos grotescos ou malfeitos, como acontece com muitos outros filmes da década de 90. No frigir dos ovos, não diria para ninguém que não tenha visto "Parque dos Dinossauros" para assisti-lo. Mas entendo porque o filme rendeu quase US$ 1 bi só de bilheteria, no mundo todo, e entendo porque um grande amigo meu, Rômulo, sempre o defendia. Segundo o "1001", em "Jurassic Park", "o show é mesmo de Spielberg- um show impressionante, de nos deixar na beira da poltrona." Quanto a mim...façam o que eu digo, não façam o que eu faço, mas eu fiquei feliz de ter reassistido Jurassic Park numa manhã ressacuda, admito.

Melhor fala:  When you gotta go, you gotta go.( Do Dr. Malcolm, o paleontólogo que faz a linha "I told you so", interpretado pelo Jeff Goldblum, vulgo Mosca. É dita quando o Malcolm vê o advogado do parque sair do carro em direção ao banheiro, fugindo do T-Rex. Já é ótima por si só, mas me lembrou muito eu e meu irmão na época em que vimos o filme, crianças, dizendo que o cara tinha morrido "cagando de medo". Piada pronta e besta, mas que matava e gente de rir)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Abre los ojos

Título em Português: Preso na Escuridão
Lançamento: 1997 (Espanha)
Direção: Alejandro Amenábar
Atores: Eduardo Noriega, Penélope Cruz, Chete Lara, Fele Martínez.
Duração: 119 min
Gênero: Ficção


"Abre los ojos" ( me recuso a usar o título em português, que parece feito especialmente para a Sessão da Tarde) é o vulgo original em que o remake Vanilla Sky, de 2001, com Tom Cruise, foi feito. Eu já era fã de longa data Vanilla Sky ( e dos ótimos diálogos), no qual a Penélope Cruz interpreta a mesma personagem, Sofia, a mulher dos sonhos- literalmente, e isso a gente só dessobre ao longo do filme- do protagonista, César ( em Vanilla Sky, David). No Vanilla Sky, ela acaba sendo uma grinda exótica, porque o filme é todo falado em Inglês, e ela fala aquele Inglês penelopecruziano, com aquela cara de latina ( que eu acho linda, por sinal, mas inegavelmente latina- e talvez por isso tão linda!)... Em "Abre los ojos", que se passa em Madrid, todo mundo castellanando, ela é só uma gatona interessante que vira a cabela dos homens, sem exotismo pátrio, e este foi um detalhe que me chamou atenção. ( Neste ponto, criei uma teoria de que "Abre los ojos" é mais justo com o ego feminino, como quem diz que você não precisa ser carne estrangeira para ser a mulher dos sonhos de alguém, só uma mulher bacana, inteligente, divertida... como nós! rs) Apesar de ser classificado como ficção, eu diria que o filme é um tremendo de um drama psicológico, com o protagonista César preso o tempo todo em um lapso entre o que é sonho e o que é realidade, depois de sofrer um acidente que deforma seu antes guapísimo rosto. E no fim das contas, o real, que deveria ser o que o César sempre sonhou, acaba se tornando um pesadelo. (Sim, é complicadinho assim!) Tudo isso é feito sem grandes efeitos especiais, apenas brincando com movimentos de câmera e as noções de espaço, tempo e realidade. O resultado é um espectador hipnotizado da primeira à última cena, sem ter certeza de como a sequência vai se sobrepondo( o que aqui, eu considero uma virtude, registre-se!); e um filme que certamente deve ser assistido mais de uma vez, pelo connjunto obra: complexidade do enredo, boas atuações, belas cenas, grandes diálogos. Quem já viu Vanilla Sky deve ver, para comparar; e quem não viu, veja os dois. Eu diria que ambos são geniais, mais "Abre los ojos" é um Vanilla mais honesto, talvez por ter menos efeitos; talvez por ter sido realizado no mesmo idioma em que o roteiro foi escrito; ou talvez apenas porque tenha sido feito antes, e permitido mais experimentações.( e talvez seja só um pouco melhor mesmo!)

Melhor fala: "Ahora mismo estas interpretando, pero no sé qué. Tu boca me sonríe, pero tus ojos temblan. Esto es porque es muy buena. Actriz, quiero decir". (César, ao reencontrar Sofia após o acidente, com o rosto já desfigurado)

Henry- retrato de um serial killer


Título original: Henry: portrait of a serial killer
Lançamento: 1990 (EUA)
Direção: John McNaughton
Atores: Michael Rooker, Tracy Arnold Tom Towles
Duração: 83 min
Gênero: Drama

NOS-SA! Embalada pelo revival da minha adolescência vendo Pânico, resolvi assistir um serial killer de verdade- gênero que eu genuinamente gosto, apesar de ser cagona- e pensei: por que não assistir a algum que esteja no livro, pra depois eu escrever sobre? E como este já estava no meu computador, resolvi dar uma olhada antes no que o livro dizia... e achei que "O espectador termina de vê-lo certo de que acabou de assistir a um dos filmes mais perturbadores já realizados" era a garantia de não desperdiçar 83 minutos do meu tempo (ainda mais meu tempo de folga que é ainda mais valioso!). Se "Henry" é perturbador em alguma coisa, é no fato de que o filme não provoca reação alguma no espectador. A execução do roteiro clichê do bad-boy-casca-grossa-que-matou-a-mamãe-vadia-e-virou-bandido é entediante, o ritmo do filme é muito lento e as imagens são demasiadamente apelativas (sangue pra todo lado), sem cenas que justificassem a carnificina. Porque vamos falar a verdade: se é pra ver sangue, que seja pelo menos pra ver de onde ele veio, ou como ele apareceu. Mas em Henry só se vê cenas de crime já prontas para serem investigadas por qualquer CSI da vida, sem que haja encadeamento com os acontecimentos. Um serial killer sem cara, incapaz de fazer com que o espectador se identifique ou sinta medo, pena, ansiedade... QUALQUER COISA! Michael Roaker faz de Henry um assassino a sangue frio que só suscita a mesma coisa em quem assiste o filme: sangue de barata. A única coisa que salva é a identificação entre o protagonista e Otis, personagem de Tom Towles, que começam a se entender em seu instinto assassino comum e acabam se aproximando por isso, a boa e velha cumplicidade da bandidagem, ou, em português de botequim: "um tatu cheira o outro." Há que se concordar com a crítica de "1001 filmes", que diz que "O filme não é divertido de se assistir 9...)", mas afirmar que ele "é importante porque obriga os espectadores a refletir, questionando nossa fascinação pelos serial killers", é forçação DEMAIS de crítico, minha gente! Em poucas palavras, se "Henry" me fez questionar alguma coisa, foi onde estava com a cabeça quando resolvi assisti-lo.

Melhor diálogo ( tarefa árdua encontrar):  

Otis: I'd like to kill somebody.
Henry : Say that again.
Otis : I'd like to kill somebody.
Henry : Let's me and you go for a ride, Otis

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ritmo de festa

  Vocês sabem como é... veio fim de semana, veio o plantão de sábado, veio o comprometimento com o lazer, a diversão e o atoísmo, e meu post acabou ficando sempre para depois. A boa notícia é que o depois é hoje! Assisti ontem o "Festa de Família", sobre o qual a única coisa que eu sabia era que fazia parte do Dogma 95, um movimento cinematográfico que buscava um cinema mais realista, menos comercial, sem efeitos e recursos tecnológicos...
  Por muito tempo, eu achava o movimento meio babaca, coisa de quem não tinha criatividade e precisava "inventar moda" para, de fato, fazer cinema. Mas hoje em dia eu acho que foi um movimento criativo legítimo mesmo, independente da qualidade dos filmes que fazem parte dele, até porque eu assisti pouquíssimos. E mais, acho mesmo que  foi uma forma de recriar alguma coisa para poder voltar a criar, brincar com regras e recursos e estabelecer novos paradigmas, mesmo que fosse só para o bel prazer dos realizadores- o que é mais ou menos o que eu tento fazer por aqui, né verdade? Vamos ao filme, que assisti ontem e acabei não podendo postar sobre, por conta de uma outra Festa de Família, aniversário da minha grande amiga, ex-roomie e pau-pra-toda-obra, Dudu.


Festa de Família

Título original: (Dogme 1 - Festen)
Lançamento: 1998 (Dinamarca)
Direção: Thomas Vinterberg
Atores: Ulrich Thomsen, Henning Moritzen, Thomas Bo Larsen, Paprika Steen.
Duração: 106 min
Gênero: Drama


Até agora, a crítica de "Festa de Família" foi a que mais coincidiu com a minha opinião sobre o filme em "1001 filmes para ver antes de morrer". Pra começar, porque parte do princípio de que o "Festa" parte de um roteiro aparentemente clichê, a comemoração do aniversário de 60 anos de um patriarca, em que a família, cheia de suas crises abafadas ao longo dos anos, resolve jogar tudo no ventilador. Os festejos acontecem no hotel da família, em que os filhos do sessentão cresceram e que, recentemente, a irmã gêmea do primogênito havia se suicidado. Pesado, não? Mas nem por isso menos batido. Pelo menos dito assim. O que impressiona é que isso tudo é brilhantemente executado, ou, nas palavras do livro, "o trabalho de Vinterberg[...] é verdadeiramente explosivo e executado com maestria". Assino embaixo. E as propostas do dogma, de um moviemaking mais puro, acabam conferindo maior densidade dramática ao filme. As câmeras oscilantes pela falta do tripé, os cortes duros e secos das passagens, os ruídos do ambiente... tudo isso aumenta o impacto emocional do que está sendo encenado- muito bem, diga-se de passagem. Embora haja um conflito central, há uma série de microconflitos que vão se interpondo, e nos instigam a saber o que vai acontecer na próxima cena. Os personagens também têm várias facetas, ao ponto de, em alguns momentos, o espectador ficar sem saber em quem deve acreditar, ou por qual deles deve "torcer" (admitam, sempre rola uma torcida por algum personagem ou plot de um filme!). São cativantes, ambíguos, falíveis- alguns mais, outros menos-,  exatamente como todo mundo. Festa de Família me ganhou porque tinha tudo apenas para ser um filme-pretexto, meio laboratório, para os criadores do Dogma, e foi muito além. A ausência de recursos tecnológicos se tornou, no final das contas, o recurso-mór, sendo determinante para a narrativa da filme. Fico feliz de ter assistido antes de abotoar o paletó de madeira.

Melhor fala: "Nice one, Dad. Good speech. Well done. But I think you'll have to go now so we can eat our breakfast."
(Que agora eu não sei se foi enunciada em Dinamarquês ou Inglês. Aliás, é muito ruim depender de legenda pra assistir um filme. Como estudo Inglês desde muito criança, me acostumei a não me prender às legendas e acho que a gente perde muito quando tem que ler absolutamente tudo pra sacar o que está se passando)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

let the reviewing begin!

Assisti dois filmes da proposta ainda esta semana, com a disciplina típica de quem começa alguma coisa nova na vida. Então, antes que bata a "síndrome dos três meses de academia" e eu fique inventando desculpas pra não escrever, vamos a eles:

Felicidade


Título original: (Happiness)
Lançamento: 1998 (EUA)
Direção: Todd Solondz
Atores: Jane Adams, Jon Lovitz, Philip Seymour Hoffman, Dylan Baker.
Duração: 134 min
Gênero: Drama


O grande pecado do livro "1001 filmes" foi dizer que o Todd Solondz "está se transformando em um Woody Allen pós-moderno e ainda mais perturbado." Pelo menos com base neste filme, achei quase uma blasfêmia a comparação. Ok, eu admito que sou suspeitíssima para falar do Woddyzinho porque pago MUITO pau pro cara. Mas achei "Felicidade" muito mais obscuro do que qualquer coisa que o Woody Allen tenha feito. E fiquei bem decepcionada, porque esperava algo meio crônica, algo meio woodyalleanesco mesmo. Li outras críticas que falavam muito sobre o humor negro do filme ao tratar de tabus. Mas foi tão negro, tão negro, tão negro que ficou no escuro e eu não consegui encontrar. Um psiquiatra pedófilo que descreve para o filho o que fez com os coleguinhas de colégio dele; uma gordinha que odeia sexo e é apaixonada por um tarado, a ninfomaníaca que escreve livros de sucesso sobre estupros que nunca sofreu...  Acho que a mão pesou demais na polêmica e faltou sutileza ou ironia, tanto que achei que pouquíssimas passagens realmente tinham algum traço de humor ( e olha que eu sou escrota e faço todas as piadas politicamente incorretas que se possa imaginar, basta me conhecer um pouco pra saber!). E mais: tirando o Phillip Seymour (vulgo gordinho louro que faz Capote) e o Dylan Baker (o terapeuta que faz freela de comedor de crianças no filme), achei as atuações bem medianas. Tipo atuação de TE-atro (assim, bem pronunciado), meio forçada demais pras telas. O menino que interpreta o filho do psiquiatra também é muito bom, e me garantiu a única risada do filme, na cena final. (Vou tentar começar essa bagaça sem soltar spoiler dos filmes, então fica o mistério do fim.) No fim das contas, "Felicidade" é um bom filme, uma crítica interessante à classe média americana, mas que eu não recomendaria a ninguém que estivesse com os dias  contados, porque dá pra morrer fácil sem ver. Tem coisa melhor no mercado.

Melhor fala*: "I came", Billy Maplewood, filho do psiquiatra-lobo-mau.

* sou obcecada com quotes de filmes, e vou sempre fazer este adendo.


O casamento de Muriel



Título original: (Muriel's Wedding)
Lançamento: 1994 (Austrália, França)
Direção: P.J. Hogan
Atores: Toni Collette, Rachel Griffiths, Sophie Lee, Roz Hammond.
Duração: 106 min
Gênero: Comédia

 Aaaaaaaah, "O Casamento de Muriel"... Tinha visto este filme quando era criança, com uns dez, doze anos. Lembro que ele tinha saído na videoteca da Caras ( no tempo em que a palavra videoteca era coisa comum de se dizer) e um amigo viado da minha mãe disse pra ela ver, que era ótimo (itálico pra frisar o boiolês). Lembro também que já, na época, eu tinha gostado muito, e agora eu não entendo por quê! Porque o melhor do filme, que são as tiradas sarcásticas e a ironia em torno da protagonista, eu não conseguia entender na época. A Muriel é uma gordinha loser e extravagante de uma cidadela da Austrália, que quer se enturmar com as lourudas gostosonas (e obviamente escrotas) do pedaço. Nos seus vinte e poucos, é desempregada, malvestida e nunca tinha pegado ninguém. Mas era obcecada pelo sonho de se casar e pelo Abba. "Alinháis", este é um bônus do filme de que eu só desfrutei agora: em mil novecentos e noventa e poucos, eu não tinha a menor pista sobre o que foi o Abba, e não pude curtir os vários momentos do filme musicados pelos gritinhos agudos da banda, muito bom. Talvez o que tenha me chamado atenção naquela época foi a amizade entre a Muriel e a Rhonda (Rachel Griffins), vivendo a vida dos vinte e alguns a esmo, seja no estilo "curtindo a vida adoidado" ou fazendo a linha "amigas para sempre é o que nós iremos ser". Faz a gente pensar nos nossos próprios melhores amigos, em qualquer época da vida. E o filme vale a pena também pra ponderar que, muitas vezes, nossos maiores sonhos não são aquilo que vai fazer a gente feliz (durmam com este barulho, amigos!) No mais, a Toni Collette está incrível como protagonista! Nas palavras do próprio "1001",  ela "não se contenta em desempenhar o papel da gorducha Muriel Hislot (...), mas absorve toda sua personalidade e a incorpora totalmente." Concordo em gênero, número e grau. ( Momento maldade: agora ela tá fazendo até um sucessinho improvável com a série "United States of Tara", que eu achei que ia ser boa, mas decepcionou. Começa pelo fato de ela ser esposa do John Corbett, o Aidan, em Sex and The City. Mais realidade, né gente?) E a Rachel Griffins, com um charme a la Juliette Lewis, brilha como a amiga-porra-louca-do-bem perfeita, Rhonda. Pode-se dizer que "O Casamento de Muriel" é um ótimo filme de mulherzinha, mas com um humor muito mais refinado e sarcástico do que o que se costuma ver nos representantes da classe-a lém de um roteiro melhor. ( Mas a fórmula da mulherzice deu certo.Tanto que, anos depois, PJ Hogan dirigiu um dos clássicos imperdíveis do gênero - para quem tem cara e coragem de admitir que já viu e amou, como eu-, "O Casamento do Meu Melhor Amigo" ). Dá pra morrer sem assistir "Muriel", mas a vida vai ser bem menos divertida.

Melhor frase: "When I lived in Porpoise Spit, I used to sit in my room for hours and listen to ABBA songs. But since I've met you and moved to Sydney, I haven't listened to one Abba song. That's because my life is as good as an Abba song. It's as good as Dancing Queen", de Muriel para Rhonda. (MUITO boa, por sinal!)